
Em um bar de Tóquio
[2]O JORNALISTA JAPONÊS FAZ A PERGUNTA de sempre:
O JORNALISTA JAPONÊS FAZ A PERGUNTA de sempre:
Em crônica recente, falei sobre a importância dos trios na música popular e no futebol, mas fiquei neles. Não me esparramei em considerações sobre os trios em geral, esquecendo os de caráter religioso: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; o Inferno, o Purgatório e o Paraíso; a fé, a esperança e a caridade.
Falta-nos uma política caribenha a nos livrar do preconceito de uma fraqueza congênita desta região insular, esfarinhada, para muitos, entre diversas culturas. Não vencemos ainda uma interdição original em nos movermos na área pelo impasse de Cuba e uma contra-resposta de Miami, suas minorias ativíssimas e essa "Havana no exílio" já a começar a influir nas eleições da Flórida. E como abordaremos o repto haitiano, hoje primeira mira do Governo neste quadrante político? Qual o trunfo a extrair, desta específica e primeira identidade afro-latina, em que nos distinguimos da América espanhola?
A Europa está em lua-de-mel. O presidente Bush, com ares de noiva, visita seus parceiros europeus pedindo desculpas pelo desencontro da Guerra do Iraque e oferecendo sua mão generosa em casamento para que, juntos, iniciem nova vida. Chirac já aceitou, Schröder também, Berlusconi nem se fala, é velha companheira de amores, Blair é indissolúvel concubinato.
Depois de tantas tentativas de um acordo de paz em Israel, parece que agora vai. Não diremos que foi a morte de Yasser Arafat que possibilitou que a paz viesse.
Volto a assunto que considero pessoal. Na semana passada, vindo de Belo Horizonte, cheguei ao aeroporto do Galeão e não acreditei. O pátio de estacionamento vazio, inúteis os vinte e tantos túneis de acesso aos aviões, alguns deles em aparente deteriorização. As sanfonas que se grudam ao corpo dos aparelhos me pareceram esclerosadas, até mesmo enferrujadas, revelando pouco ou nenhum uso.
No título da matéria de capa do número desta semana da revista Veja , vem a expressão "um golpe na imagem do parlamento". Sem dúvida, o presidente da Câmara dos Deputados é conhecido como " rei do baixo clero."
Napoleão dizia que a imaginação governa o mundo. Tal afirmação foi recolhida por Paulo Rónai do Memorial de Santa Helena, de Emmanuel Les Cases, e não há por que duvidar dela. Mas não deixa de ser espantoso o fato de o guerreiro e estadista sob cuja espada grande parte da Europa foi governada no século 19, admitir, no exílio, a primazia da fantasia e da fábula sobre a realidade.
É difícil se encontrar passagem de ano onde os jogos de uma realpolitik fechem de maneira tão clara o futuro lá fora. A ida de Rumsfeld a Bagdá, o aperto de mão, duro, os mesmos semblantes baços, os mesmos ritos, marcam a percussão do mesmo, transposto já ao simulacro. Repete-se o rito pelo secretário da Defesa, após o presidente, o ano passado, como se se baixasse à instância das rotinas, sem ilusões de mudança. Nenhum afrouxamento do petrecho militar no Oriente Médio. Nem alteração do projeto da redemocratização com maiorias sintéticas, por mais que somem os atentados, e se amplie o pessimismo das Nações Unidas quanto à legalização formal do regime, como relevante para a paz efetiva no Iraque. Claro, aí está, quase como mecanismo automático, o do gesto de congraçamento após o 20 de janeiro, que levará Bush a Bruxelas, e às alvíssaras de conversa com a outra ponta do Primeiro Mundo. A queda pertinaz do dólar está muito longe de apresentar, ainda, qualquer risco estrutural da boa entente econômico-financeira dos dois lados do Atlântico.
Circula no Congresso para discussão e aprovação um projeto do governo que cria o CFJ, Conselho Federal do Jornalismo, e está em debate para ser também encaminhada ao Legislativo uma proposta do MinC de criação da Ancinav - Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual. Como indicam os nomes, o primeiro busca regular a atividade jornalística; a segunda, o cinema e as atividades audiovisuais. Muitos dos dispositivos das duas medidas, sobretudo do projeto, soam familiares a quem está, por dever profissional, atento à história nacional.
Roland Corbisier, falecido a 10 de fevereiro último, foi o primeiro diretor do ISEB: instituto que, há quase meio século, procurou formular a ideologia do nosso nacionalismo, amarrada à vigência do desenvolvimento. Buscava o impacto mobilizador de uma efetiva tomada de consciência pelo país do seísmo em que importara, à época, a perspectiva dos ''50 em 5'' de Juscelino. Refletia o salto para a mudança, implicando a revisão de tantos mitos, desde a inevitabilidade do progresso até o da nossa condenação ao fracasso no quadro das velhas pestiferações de raça, da preguiça, ou do povo, como denunciava Monteiro Lobato, feito dos Jecas-tatus, à margem da história. O ISEB, empenhado na autoconsciência dos movimentos sociais, viria necessariamente a se chocar com as visões corporativas, ou dos atores privilegiados para o desenvolvimento, tal como das Forças Armadas, a comandar este processo, consoante os imperativos geopolíticos e estratégicos da Segurança Nacional.
A instalação da Cadeira Celso Furtado em Paris, em cooperação entre o Fórum de Reitores do Rio de Janeiro e o Collège de France, permitiu um amplo debate sobre a presente visão no exterior do governo petista, em meio de mandato. Difícil perspectiva mais rica, do que a do cenário da Sorbonne, envolvendo esta massa de estudantes e pesquisadores de todo o mundo, debruçado sobre o que representa - nas antigas periferias - o crescimento do recado de Lula. Não se trata apenas do reconhecimento inédito deste governo que, entrando no seu segundo tempo, mantém essa popularidade inédita de 68% de apoio, e ainda em expansão. Nem da certeza real com que está plantado o chão de estabilidade, para que se adense a proposta, vencido o radicalismo utópico, tanto a alternativa ao mundo neoliberal envolve uma prática, de toda hora para que vingue, sem retórica, e a duras penas, uma esquerda em processo.
Nada teria com o sr. Eduardo Matarazzo Suplicy e sua ex-esposa Marta Suplicy não fossem ambos figuras públicas, ambos políticos, sobretudo ela, que tem mais disposição para essa atividade não raro subalterna que é a política. Mas, os indícios surgem, primeiro como demonstração que a esposa não amava o marido, pois o deixou, deixando o lar, com os três filhos e, depois, casou-se pela segunda vez, com um franco argentino cuja origem é pouco conhecida.
Um dos aspectos mais ridículos da mídia é que, em linhas gerais, ela deixou de se pautar pela realidade, trocando-a pelas manifestações periféricas da TV, do cinema e, pasmem!, da própria mídia. Quando um repórter sugere determinado assunto em reunião de pauta, recebe pronta aprovação se, em vez de partir da realidade escancarada à frente de todos, ele invoca um filme em cartaz, um determinado momento da novela que está dando ibope, um disco que será lançado e cujo marketing empurra pela nossa goela uma transcendência inexistente.
Colega de página, Benedicto Ferri de Barros citou em sua coluna, na última segunda-feira, o sábio chinês Lao-tsé, que há trezentos anos antes de Cristo já condenava o abuso do poder supremo dos governos a sobrecarregarem a economia do povo com impostos extorsivos. Como os que pesam sobre os brasileiros em nossos dias. Segundo a citação de Lao-tsé, "o povo sofre porque seus governantes comem demais por meio dos imposto". É o caso brasileiro.
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