AO SAÍREM DO TRIBUNAL , ela disse ao ex-chefe: "Espero nunca mais ver você".
"É exatamente o que eu espero", foi a resposta dele.
Ambos estavam enganados. Nos dias que se seguiram, e por causa de outras notícias que apareciam no jornal, ele constatou que não conseguia esquecer a sua funcionária. A verdade é que, pensando bem, fora injusto com ela. A moça até que não tinha seios tão grandes assim. Pelo menos, não tão grandes quanto o da modelo japonesa, absolvida por causa dos seus 110 centímetros de busto. Além disso, seios grandes, para muitos homens, se constituíam em objeto de desejo: o caso do homem de Bancoc que procurara uma prostituta exatamente porque ela anunciara na internet que tinha seios grandes. E os seios da ex-funcionária não eram apenas grandes, eram bonitos. Será que no fundo, no fundo, ele não a desejava? Será que, na verdade, não era a si próprio que ele estava hostilizando por causa de uma paixão por seios que só agora estava descobrindo?
Decidiu procurá-la. Pediria desculpas pelo que tinha feito.
Talvez pudessem jantar juntos, talvez pudessem conversar, descobrir-se mutuamente. Telefonou-lhe. Para sua surpresa ela ficou muito contente com o convite: sim, também ela estava esperando por essa oportunidade. Ah, sim: tinha uma surpresa para ele.
A surpresa, ele constatou quando se encontraram, estava nos seios. Eram pequenos, insignificantes. "Conclui que você tinha razão", disse ela, radiante. "Meus seios eram grandes demais. Procurei um plástico e ele resolveu o problema."
Estão namorando. Mas, em seus devaneios, ele se pergunta onde foram parar aqueles seios grandes, pujantes, aqueles seios cheios de paixão.
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