O cantor baiano Gilberto Gil participou, nesta quinta-feira, 25, do “Ciclo de Conferências 2024 - Poesia na Academia”, da Academia Brasileira de Letras (ABL). Em uma palestra, ele falou da evolução poética de suas letras, explicando o que está por trás dos principais versos de sua carreira, dos anos 1960 até os dias atuais.
Em um certo momento, falando sobre sua música “Ele Falava Nisso Todo Dia”, ele abordou a aflição que sentia com as dificuldades enfrentadas diante das questões do capitalismo e revelou a influência do seu amigo Caetano Veloso na evolução de sua poesia.
De acordo com Gil, sua formação poética era clássica e Caetano o apresentou às poesias modernas e contemporâneas, trazendo uma renovação para os versos de suas composições.
“Ele foi fundamental no processo de enriquecimento do meu trabalho. Eu vinha de um gosto pelo verso clássico. Eu tinha bebido nas fontes do [Olavo] Bilac, do Gonçalves Dias, do Castro Alves”, disse Gil.
“O verso moderno, o verso contemporâneo, não passava ainda pela minha cabeça. Foi Caetano quem me mostrou esse mundo, essa inovação, essa renovação da força. Uma eletrificação. Minha música passou a ter energia elétrica depois que eu conheci Caetano e ele me ensinou tanta coisa”, complementou o músico.
Durante a palestra, Gil revelou outras influências da sua formação, começando por Luiz Gonzaga e Dorival Caymmi, passando por João Gilberto e pelo concretismo, até à maturidade da sua música, que o levou a ser eleito “imortal” da ABL.
Com o encerramento de sua fala, o músico pegou seu violão e apresentou uma de suas canções dos anos 1960: "Soy Loco Por Ti, América", composta em parceria com o poeta José Carlos Capinam, com letra metade em português, metade em espanhol.
Velha amizade
Gil e Caetano se conheceram em Salvador nos anos 1960 e, já em São Paulo, em 1967, idealizaram o movimento contracultural conhecido como "Tropicália", que revolucionou a música brasileira.
A dupla chegou a ser presa em dezembro de 1968 pela ditadura militar que governava o Brasil. Nem Gil nem Caetano foram informados sobre a motivação da prisão, que só se encerrou no final de fevereiro de 1969, quando foram enviados de volta a Salvador.
Temendo a prisão, os amigos partiram para um exílio em Londres, que durou aproximadamente três anos entre 1969 e 1972. Antes, chegaram a fazer um show de despedida no Teatro Castro Alves, chamado "Barra 69", quando arrecadaram valores para a viagem.
Em 1976, já de volta ao Brasil, se juntaram a Gal Costa e Maria Bethânia, na formação do grupo "Doces Bárbaros", uma ironia aos críticos que se incomodavam com a "invasão" dos baianos no Rio de Janeiro.
Posteriormente, em 1993, voltaram a se juntar para a realização do show "Tropicália 2", em celebração aos 25 anos do álbum "Tropicália ou Panis et Circencis".
Mais recentemente, em 2015, Gil e Caetano fizeram uma grande turnê, nas maiores capitais do Brasil e em diversas cidades da Europa e dos Estados Unidos, para celebrar os 50 anos de carreira de ambos. O show ficou conhecido como "Dois Amigos, Um Século de Música" e gerou um registro audiovisual histórico.
Matéria na íntegra: https://atarde.com.br/cultura/gilberto-gil-exalta-influencia-de-caetano-em-sua-arte-eletrificacao-1267832 [1]
29/04/2024Links
[1] https://atarde.com.br/cultura/gilberto-gil-exalta-influencia-de-caetano-em-sua-arte-eletrificacao-1267832