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Um espaço sagrado

 

É preocupante a falta de conhecimento de diversos profissionais de diferentes áreas em relação à Língua Portuguesa. Alegam essas pessoas que a simples troca de um z por um s não muda o valor de uma petição advocatícia, a receita de um médico ou, ainda, o relatório de um administrador. Puro engano: um texto mal escrito abala a imagem do profissional que o escreveu e, sem dúvida, desqualifica o trabalho.

Infelizmente, o descaso com o nosso idioma é notório.

Nossos alunos revelam, nos exames nacionais e internacionais, falhas incríveis em Leitura e Matemática. Somos o 53º país na classificação do Pisa. Partindo desse princípio, o MEC lidera um movimento a fim de estabelecer os fundamentos da Base Nacional Comum Curricular. Quer ouvir todos os agentes envolvidos no processo, mobilizando especialistas federais, estaduais e municipais.

Louvável medida, mas como torná-la prática diante desse quadro confuso de desentendimento?
Começa que, por tradição (europeia?), nossos currículos são estanques. As 13 matérias do ensino médio, por exemplo, não conversam entre si, ao contrário do que acontece em países mais desenvolvidos em educação, como podemos citar a Finlândia, a Coreia do Sul e a Suécia, cujas experiências conhecemos pessoalmente.

Qualquer que seja o curso a ser seguido por nossos alunos (ou mesmo na efetivação de concursos públicos), o conhecimento da língua portuguesa é essencial, com a mescla dos conteúdos de morfologia e sintaxe. Conhecer os valores semânticos é indispensável para o correto exercício profissional e também para a comunicação e expressão do nosso idioma.

Conhecer mais profundamente a língua portuguesa não deixa de ser, igualmente, um exercício patriótico. Como compreender os textos de Machado de Assis, por exemplo, sem o adequado domínio da nossa língua? Devemos conhecer as suas origens, os seus caminhos e os riscos que pairam sobre o seu futuro, com o excesso de oferta eletrônica descontrolada.

O Brasil vive um período de grande enriquecimento do que chamamos de avaliação. Demorou muito tempo para que adquiríssemos o real significado do que isso expressa, em termos de busca da qualidade. Se não conhecemos as nossas deficiências, como melhorar de conduta? No caso dos cuidados com a língua pátria, sempre existe uma palavra de incentivo para que ela se aperfeiçoe.

Vamos reparar que, nos currículos propostos, o espaço da língua portuguesa é praticamente sagrado, não devendo se reduzir em proveito de qualquer outra disciplina. Não existe nada mais importante.
Sabe-se que a língua é um fator fundamental da unidade nacional, base da cultura de um povo.

Pode-se argumentar com o festival de línguas em certos países europeus, onde essa unidade fica prejudicada, embora cada povo lute pela preservação da sua língua como fator de independência e identidade popular. Temos a sorte e o destino de possuir uma só e poderosa língua de cultura. Há que se cuidar dela com todo carinho, valorizando os seus professores, escritores e todos os que sobre ela se debruçam. É uma forma de fortalecer a nossa cultura

Folha Dirigida (RJ), 11/02/2016