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Os mesmos erros

 

À medida que a campanha eleitoral começa a se definir com os candidatos a presidente da República mostrando as caras, as divergências internas nos partidos vão se cristalizando. Os principais partidos parecem dispostos a cometer os mesmos erros.  O prefeito de São Paulo, João Dória, avançou em sua posição original. Embora mantenha a disposição de não disputar prévias com seu padrinho, o governador Geraldo Alckmim, no que parecia ser um gesto de reverência, agora diz que o povo é que deve escolher o candidato, e que permanecerá no PSDB até quando for possível.

O que quer dizer que não aceita que o candidato tucano seja escolhido por prévias, mas pelas pesquisas eleitorais, que o colocam sempre à frente de Alckmin. Com isso, dá um passo à frente em direção a um novo partido, quem sabe o sucedâneo do DEM, que quer até mesmo no nome ser o representante de um centro político.

 O presidente da Câmara. Rodrigo Maia, já abriu o partido para Dória, no que indica que os tucanos terão que disputar seu espaço político com outro candidato de centro-direita. No PSDB, Dória só fica se abrir mão de seu sonho de disputar a eleição presidencial como o candidato anti-Lula para encerrar o mandato de prefeito no posto. Nem mesmo o governo do Estado está a seu alcance, pois existe uma combinação prévia para que o vice Marcio França assuma o governo de São Paulo, levando o PSB a apoiar Alckmin para presidente.

Até mesmo Lula, que não deixou nenhuma grama nascer a seus pés, impedindo que o partido formasse líderes de presença nacional para substituí-lo, está sendo contestado pelos militantes do partido. A incerteza sobre sua permanência como candidato, diante da possibilidade de se tornar um ficha-suja depois de condenado em segunda instância, e o fracasso da recente caravana pelo nordeste, que fez a direção nacional do PT afirmar pateticamente que as viagens foram feitas para contatos políticos e não havia expectativa de público presente, está ajudando a que não apenas no PT, mas também na esquerda, sua liderança seja contestada.

O PSOL está em busca de uma ação política pós-Lula, e setores do PT acham que Lula já deveria encaminhar o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como seu plano B, caso seja impedido pela Justiça Eleitoral de se candidatar.

Para não ficar a impressão de que somente Haddad está nessa condição, Lula tem dito que o ex-governador da Bahia Jacques Wagner também está nesse páreo. Mas qual Lula, ou qual PT, concorrerá em 2018?  Jacques Wagner e Haddad ensaiam um discurso para cada platéia, quando estão em ambiente liberal, podem ser convincentes liberais, quando estão entre radicais de esquerda, mostram as garras. Recentemente, Jacques Wagner disse em uma reunião petista que o problema do PT foi, por não terem feito uma revolução como em Cuba, terem que disputar as eleições “nas regras da democracia deles”.

O Lula tão ou mais radical que o de 1989, que ele mesmo admitiu não estar preparado para vencer naquela ocasião, surge nessa campanha com destaque, como recentemente no Piauí, quando defendeu a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela e disse que “Hugo Chávez era uma figura extraordinária”.

Não foi certamente sem seu aval que a presidente nacional do PT, senador Gleisi Hoffman, fez a defesa da Assembléia Constituinte na Venezuela ao abrir o 23º encontro do Foro de São Paulo, na Nicarágua. Em nome do partido, declarou "apoio e solidariedade ao governo do PSUV [Partido Socialista Unido da Venezuela], seus aliados e ao presidente Maduro frente à violenta ofensiva da direita". E disse que o PT tem expectativa de que a Assembléia Constituinte “possa contribuir para uma consolidação cada vez maior da Revolução Bolivariana e que as divergências políticas se resolvam de forma pacífica."

Ao mesmo tempo em que acirra o discurso, que o isola do eleitorado ampliado que ele atingiu na campanha de 2002 transformando-se em Lulinha Paz e Amor e assinando a Carta ao Povo Brasileiro com compromissos liberais na economia, o ex-presidente Lula mantém alianças com políticos da direita nordestina como Renan Calheiros em Alagoas, José Sarney no Maranhão e Eunicio Oliveira no Ceará.

Foi duramente criticado por seus próprios militantes quando assumiu o apoio a Sarney e Renan, afirmando estar convencido de que“a aliança política continua necessária”. Foi acusado pelo twitter de estar cometendo os mesmos erros, numa referência à aliança feita com o PMDB de Temer, que acabou no governo depois do impeachment da ex-presidente Dilma.

O Globo, 05/09/2017