Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Os dias das mentiras

Os dias das mentiras

 

Primeiro de abril é o Dia da Mentira. Dia de falar de mentirosos, esta espécie que, nos tempos que correm, melhor se adapta à nossa selva. Acreditar nas próprias mentiras é o destino dos mentirosos. Levado ao extremo, vira loucura.

O governo pelas redes, essa fábrica de Twitters e fake news onde se confisca a verdade, é uma forma de loucura e está enlouquecendo o país. Mas há um método nessa loucura.

É o debate público essencial à democracia que está sob ataque. O governo trata adversários como inimigos, com uma arrogância de donos do país. Comporta-se como se acreditasse que todos os que votaram no presidente Bolsonaro são seus devotos e lhe deram carta branca para fazer o que bem entender. Compra, assim, suas próprias mentiras. Bolsonaro prega para os convertidos, a minoria fanática que, à imagem e semelhança dos fanáticos de Lula, diz amém a qualquer despautério.

Ora, o Brasil é uma democracia com instituições. A confusão que as mentiras semeiam — o método dessa loucura — tem como alvo a destruição da confiança nas instituições. Sobretudo aquelas que, a exemplo da mídia, têm autoridade para validar o que é um fato.

Os trolls, agentes da desinformação nas redes, ao espalhar mentiras, corroem a capacidade da sociedade de discernir o que é verdadeiro e o que é falso. A desinformação é uma arma poderosa da guerra declarada a quem discorda do governo. Se esse clima de cruzada contra todos que pensam pela própria cabeça se prolongar, fomentará cada vez mais ódio.

Essa desconstrução de tudo que lhe é dessemelhante, logo suspeito, aprofunda a impressão de que a nação está dividida ao meio. Mais uma mentira. O Brasil é uma sociedade múltipla e se move em várias direções. O presidente é que está, a cada dia, graças a ele mesmo, mais isolado.

Primeiro de abril também é o dia dos bobos. Não somos nós, a população, os bobos. Já descodificamos essa loucura e seus métodos. O Brasil não é uma terra arrasada. As instituições existem e resistem. Ódio não é a língua da nossa cultura.

O Globo, 01/04/2019