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O paradoxo de Temer

 

Mais uma vez o presidente interino Michel Temer titubeou para demitir um ministro envolvido em revelações que o inviabilizavam no cargo. O que mais preocupa não é simplesmente a tibieza que Temer vem revelando, que não se esvai com um tapa alegórico na mesa. A razão desse comportamento é que está no centro das atenções.

Ele foi aconselhado a não incluir no ministério pessoas investigadas nas diversas operações criminais em curso, especialmente a Lava-Jato. Também não deveria acatar sugestões de políticos expostos a essas investigações, muito menos dos presidentes da Câmara (afastado) Eduardo Cunha, e do Senado Renan Calheiros, ambos com pencas de processos no Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas as ligações políticas de longo alcance com toda essa cúpula do PMDB impede que Temer tenha a independência que o momento exige de um presidente que assumiu o cargo interinamente devido ao impedimento de uma presidente que, apanhada em desvios fiscais graves, tem, além de tudo, o envolvimento carnal com um partido, o PT, metido em todo tipo de falcatrua.

Curiosamente acontece com Temer o mesmo que com Dilma: o seu entorno está todo contaminado por denúncias de corrupção, com raras exceções, mas as acusações diretas contra ele são ainda tênues. No caso dela, são  mais consistentes, até mesmo pelo domínio dos fatos que ela detinha desde que era ministra das Minas e Energia e chefiava o Conselho de Administração da Petrobras. Mas, assim como Dilma está sendo, ele também poderá ser atingido letalmente por delações premiadas ou gravações clandestinas.

 Portanto, Temer não tem as mãos livres para agir com desenvoltura neste momento em que depende do apoio do Senado para confirmar o impedimento definitivo da presidente afastada Dilma Rousseff e também do Congresso para aprovar medidas econômicas impopulares, mas decisivas. Por isso ele tem que, ao mesmo tempo em que negocia com políticos, manter a sociedade esperançosa de novos dias, tarefa difícil que às vezes pode ser até mesmo paradoxal.  

Nada menos transparente do que a reunião que Fabiano Silveira teve com o presidente do Senado Renan Calheiros, cuja gravação foi revelada pelo Fantástico da Rede Globo na noite de domingo. O teor das conversas não deixava dúvidas de que o novo ministro estava orientando seu “chefe” da ocasião a como escapar dos procuradores da Lava-Jato.

Parece pouco provável que ele, como chegou a alegar, não soubesse quem era o presidente da Transpetro Sérgio Machado, mas isso é o de menos. O que revelou o grau de comprometimento de Silveira com o presidente do Senado foi a sugestão para que Calheiros não entregasse ao Ministério Público sua defesa detalhada, evitando assim que os procuradores tivessem base para  contestá-la e investigá-lo.

Outro ponto crucial das gravações foi o relato do presidente do Senado de conversas que Fabiano Silveira mantivera com membros do Ministério Público, com o intuito de sondar o que eles teriam contra Calheiros. Isto é, Fabiano Silveira, que àquela altura era membro do Conselho Nacional de Justiça indicado pelo próprio Calheiros, usava sua posição para obter informações que beneficiassem quem o indicou.

E assim supostamente agiria no ministério da Transparência, uma pasta fundamental no combate à corrupção, percepção que retira do ministro sua autoridade moral. O presidente da República, Michel Temer, tem um duplo desafio pela frente: recuperar a credibilidade da economia e a imagem do Brasil como um país confiável e seguro enquanto ambiente de negócios.

Recuperar a economia requer esforços e fórmulas que estão sendo encaminhadas pela equipe econômica, em conjunto com áreas estratégicas do Governo.  Já encaminharam medidas de forte impacto positivo. A recuperação da credibilidade – interna e externa – suscita, porém, para além da agenda econômica, a importância da agenda anticorrupção do governo Michel Temer.

E essa agenda tem sustentação não apenas na opinião pública, o que já não seria pouco, mas num conjunto de exigências internacionais de investidores que buscam ambientes transparentes e seguros para negócios. Países corruptos são tidos como refratários aos investidores internacionais e propensos à insegurança jurídica.

O Globo, 31/05/2016