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O novo exílio das esquerdas

 

Em compasso paralelo à presente guinada ocidental à direita, vivemos no Brasil o fenômeno histórico de repúdio da vigência de uma esquerda, com a chegada do PT ao governo. Fazendo frente ao nosso enraizado status quo, quebrou-se, por aí, o desfrute do poder pelo perene regime dos desequilíbrios sociais, de par com a concentração de seus benefícios.

O posterior desencanto com o petismo, por sua vez, independeu dos resultados da redistribuição de renda e do aparelhamento do governo para uma política de desenvolvimento. As nossas esquerdas são, hoje, atingidas por um moralismo superveniente, acompanhado pela falta de uma geração substitutiva, como que anestesiada pela força do carisma de Lula, a que não deu sequência o anticlímax de Dilma. E, ao mesmo tempo, não temos similar contemporâneo dessa quase hegemonia do petismo na nossa representação parlamentar, a que se junta a sucessão de minipartidos presos a minudências ideológicas na representação parlamentar.

Toda a presente cena política, por outro lado, fica sob a dependência da Operação Lava-Jato, que está longe de exaurir as suas condenações e numa significativa equidistância de suspeitas entre o situacionismo e a oposição. 

Estamos ainda à espera do novo tsunami cívico, que representa a delação de Marcelo Odebrecht. É de se prever como a eficiência da superempresa, na meticulosidade dos seus arrolamentos, vai acarretar o desmonte da “República das Propinas”. Só cresce, também, o “prende e solta”, em que o Supremo manda para casa os detidos pelo procurador-geral. Doutra parte, ainda, só se acirra a contraposição entre o PSDB e o PMDB no comando do novo governo, tendo em vista a composição emergente para as eleições municipais. 

status quo retorna agora, por inteiro, com o governo Temer, sob o disfarce de um liberalismo que acoberta todo o desatamento de uma riqueza instalada e agora livre das ameaças de aumento de tributos ou do confronto estatal nas dinâmicas do mercado, em bem de uma verdadeira economia de desenvolvimento.

O que veem, hoje, as esquerdas à sua frente não é só a alternativa, mas a própria proposição de um programa para a mudança, com a defesa e a garantia de que venhamos ainda a ter políticas públicas diante do “vale-tudo” do status quo instalado.

O Globo, 27/07/2016