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Nossa prosperidade culpada

 

A Assembleia Geral das Nações Unidas é sempre o momento da larga comparação das principais economias mundiais, em que se ressalta a sétima posição, hoje ocupada pelo Brasil. Atenta-se, entretanto, ao nosso descompasso entre desenvolvimento e justiça social. Pouco mais de 1,5 % da população detêm 30% do PIB, e 2,3%, 52% do seu montante. A concentração de renda vem acompanhando a nossa prosperidade, e cresce a expectativa internacional de correção desse escandaloso contraste. Não temos o imposto sobre as grandes fortunas, que, em si mesmo, poderia trazer R$ 98 bilhões anuais aos cofres públicos. Abrigamos os mais altos juros do mundo. Mais ainda, o encargo da dívida pública vai à metade do orçamento federal, e seu atendimento envolve o dispêndio de 21 mensalões por dia e, tal quanto o gasto público, soma, apenas, 3,73% em educação, 3,98% em saúde e 0,28% em ciência e tecnologia. 

Dentro da nova ótica internacional, a expectativa é a de que, num quadro de melhoria dos direitos humanos, avulte a despesa com os direitos sociais, por sua vez, cada vez mais destacados dos dispêndios com segurança, que ainda, em muitas nações, só têm também crescido com o novo século. A nossa Carta, aliás, foi pioneira nessa visão, destacando a área da educação da estrita atividade econômica, exercida pelo setor privado. Ela se aparta de todo o jogo da economia de mercado, supondo regulação indiscutível e fixando sua possível taxa de lucro. É outra prioridade à qual não poderá suportar o novo governo Dilma, atendendo-se ao quanto, hoje, 56% da prestação educacional se apartaram do setor público, e são as classes C e D as que vão ao ensino particular, perdendo para os ricos na classificação para o acesso à universidade estatal. Falta-nos, ainda, a cota dos desfavorecidos nesse ensino, tal como se garante a de raça. 

A intervenção do papa Francisco nas Nações Unidas, na sua força prospectiva, insistiu na conquista dos direitos ambientais e difusos como reclamos da nova cidadania. Mas, ao seu lado, continua a falta de provisão, em nome dessa mesma melhoria, das condições reais do bem comum dentro da prosperidade. Nela, prima, e cada vez mais, o reclamo pela adequação dos níveis efetivos de distribuição da riqueza. Sétima economia do mundo, temos a prioridade constrangedora - nessa competição - de sermos ainda o país dos destituídos.

Jornal do Commercio (RJ), 02/10/2015