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Metáforas e parábolas

 

Os três chegaram mais ou menos ao mesmo tempo, mas de lados diferentes. Um pela direita, onde funcionava o templo "Evocação a Deus de Todos os Homens". Outro pela esquerda, na direção do cemitério clandestino, onde estavam enterrados alguns adversários da última ditadura. Finalmente, chegou o terceiro e último, que não veio de direção alguma, brotou inesperadamente do chão, num caminho de terra que não dava para nenhuma parte.

Não se trata de uma parábola, muito menos de uma metáfora –que no fundo parecem ser a mesma coisa. Chamar a pátria de mãe, por exemplo, pode ser as duas coisas.

Acontece que a sucessão presidencial, com ou sem a renúncia de dona Dilma, como sugeriu FHC, ou impeachment como quer grande fatia das ruas, praças e mídias, está posta em questão, tal como a linda Inês estava posta em sossego –depois de citar FHC, é natural que citemos Camões, embora a questão em si esteja mais para Bocage.

"Ab jove principium." Pela Carta Magna ( outra metáfora), o primeiro deveria ser o vice-presidente (outra parábola), mas as coisas não costumam obedecer o ritual, havendo o receio de o primeiro ser um general desativado, mas louvado por seu amor a mãe pátria. Não é à toa de que veio pela direita.

O segundo poderia ser o condestável que inventou dona Dilma, mas é suspeito de ter inventado o mensalão e o petrolão, que não chegaram a ser metáfora nem parábola, mas uma questão de polícia –que talvez, dadas as circunstâncias, promova um rodízio de pizzas a preços populares.

O terceiro sim, poderia ser ao mesmo tempo uma metáfora ou uma parábola. Dependendo do andar da carruagem, lembro uma canção infantil que lamentava Teresinha de Jesus: deu uma queda e foi ao chão, acudiram três cavalheiros, todos três (e mais um: o povo) de chapéu na mão. 

Folha de São Paulo (RJ), 25/08/2015