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Inesperado esfacelamento

 

Tanto se avolumam as candidaturas republicanas, tanto se afirma a exclusiva opção por Hillary Clinton, entre os democratas. E só avulta, neste momento de previsões, a constância surpreendente de seu avanço frente a qualquer rival do GOP, como é chamado o Partido Republicano.

A visita de Barack Obama ao Quênia evidenciou, mais ainda, como a sua mensagem, senão o seu legado, exorbita dos diálogos e das conveniências diplomáticas. Mostrou o quanto a nação africana entra em choque com os imperativos fundamentais dos direitos humanos em nossos dias.

Expôs a inacreditável condenação do comportamento homossexual à ilegalidade no país. Da mesma forma, as convocações do presidente ao avanço de uma consciência mundial reforçaram a luta contra o Estado Islâmico, com a adesão da Turquia.

Internamente, começa a se alterar a expectativa de jogos feitos na vitória republicana, no próximo mandato. Não só se multiplicam as candidaturas republicanas, mas começam a competir, no seu radicalismo, para a sucessão dos democratas. A intenção de Obama de acabar, de vez, com a prisão de Guantánamo estimula o desarme da resistência contra Cuba e enfraquece candidaturas como a de Marco Rubio.

É, ineditamente, diante desse enxame de pretendentes que aparecem candidaturas extrapartidárias, confiando estritamente em seu poder econômico e influência midiática, como é o caso da de Donald Trump. Exceção única, talvez, nesse extremismo programático, seja Jeb Bush, que quer se dissociar do legado da família, na busca da mais moderada das propostas de um governo pós-Obama.

A candidata, entretanto, aposta mais no contraponto genérico aos republicanos do que na insistência de pontos cruciais da mensagem do atual presidente. E tem sido reticente, até agora, no apoio ao acordo nuclear com o Irã, não querendo se expor ao que possa ser a negativa do Congresso à iniciativa de Obama, vista como crucial pelas Nações Unidas.

De toda forma, o inédito desse esfacelamento e a autoanulação dos pretendentes republicanos eliminam a aparição de um superprotagonista, a homogeneizar a alternativa aos democratas. Nem exclui que, ainda a reforçar a opção por Hillary, o extremismo radical dos democratas possa levar ao entredevoramento dos republicanos e até a possível abstenção de voto em face do enojamento político dos que se viam, até agora, como ganhadores inevitáveis do confronto de 2016.

O Globo, 02/08/2015