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Currais eleitorais

 

Quem teve oportunidade de viver ao menos uma parte do período dominado pelo Partido Republicano Paulista (PRP) sabe o que é curral eleitoral . Em poucas palavras, o curral eleitoral é uma forma de reunir eleitores despersonalizados, dando-lhes a personalidade do partido e, assim, a filiação partidária. Foram famosos no período do PRP esses currais , onde os políticos reuniam seus abnegados eleitores e candidatos a eleitores, de forma a fazer permanentemente um sexto sentido político, que pesa nas eleições a favor do candidato submetido ao curral eleitoral.


Com essa fórmula, o PRP e seus congêneres em outros estados pôde manter-se no poder durante muitos anos, vindo-lhes fazer sombra, somente o Partido Democrático de São Paulo (PD), nascido na casa do senador Antônio Prado, de quem fez excelente obra jornalística sobre o que foi o PRP. Os currais eleitorais de então eram norma na política fundada nos grêmios eleitorais e desapareceram com o desaparecimento do PRP.


Estamos, sabendo agora que no Rio de Janeiro surgem novos currais eleitorais , dando-lhes atualidade nos últimos pleitos, como leio n' O Globo de ontem. Diz a notícia que a PF vai apurar a formação de currais eleitorais do crime . Entenda-se que o apoio ostensivo aos eleitores será feito pelos criminosos que atuam nas favelas. Não são, portanto, os currais como eram conhecidos no tempo do PRP, mas, sim, currais eleitorais do crime , obrigando os candidatos ao mandato político à obediência ao criminoso que lhe deu apoio.


Na realidade, os currais eleitorais sempre existiram (com outros nomes), e o significado era o mesmo; quer dizer, atuavam reunindo o eleitorado para a formação dos líderes eleitorais que davam cabo das ordens recebidas dos maiorais do crime. Separamos essa situação da situação carioca, onde predominou, sempre, o domínio da favela sobre o político. Por currais eleitorais entendemos, portanto, a presença de candidatos no curral no dia do pleito e a indisputada opinião do candidato pelo criminoso que lhe deu apoio e a quem ele deve obediência, se quiser ser reeleito.


Vê-se que era fácil manter um curral eleitoral , onde a obediência aos mandões do crime era absoluta, e no Rio, onde as favelas predominam e dão as diretrizes a seguir aos obedientes ao curral.


Diário do Comércio (SP) 23/7/2008