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Discurso de recepção

Discurso de recepção por Arnaldo Niskier

“É no trabalho com entusiasmo que
está a porta do paraíso, o amor que transforma,
a escolha que nos leva até Deus.”

PAULO COELHO

Acadêmico Paulo Coelho,

Como recurso bíblico, posso afirmar de início que são múltiplos os sinais enviados por Deus ao Povo Eleito. Para o Todo-Poderoso, as palavras deveriam ser guardadas no coração e na alma. Assim, serviriam de conselho ou de advertência. Também sou partidário do respeito aos sinais, que podem ajudar a purificar o espírito. É a primeira grande concordância com o novo acadêmico, que faço questão de revelar, nesta solenidade.

Recorro ao Acadêmico e romancista Carlos Heitor Cony para proclamar o valor mais alto da vossa intenção oculta: preencher, via literatura, o vazio da alma humana. A afirmativa é do autor do romance Quase Memória:

Sua simplicidade lembra, em alguns momentos, os santos de todas as épocas e de todas as religiões, que dizem as palavras necessárias, as palavras que todos querem ouvir; de certa forma, essas palavras estão dentro da alma de todos nós. Assim, tentam melhorar o homem e tornam a vida mais suportável.

Nesta Casa pluralista, que cultiva basicamente a Língua Portuguesa e a Literatura Brasileira, como quiseram os seus fundadores, entre os quais Machado de Assis, o mais forte dos sinais é a palavra, especialmente a palavra escrita, aprisionadora de ideias. Nela, os gregos antigos sentiam a existência de “sinais mortíferos”. É o que se pode depreender da vida e da obra do escritor Paulo Coelho, com as suas parábolas magnificamente elaboradas.

Como explicar por que fostes eleito para a Academia Brasileira de Letras exatamente no dia de Santiago de Compostela (25 de julho)? É o santo da cidade espanhola situada na Galícia, onde milhares de peregrinos, desde os tempos medievais, terminam a famosa caminhada mística, na catedral barroca em que o apóstolo foi enterrado. Ele também é conhecido como Maior.

Fizestes esse percurso de 700 quilômetros em 55 dias, no ano de 1986, e a vossa vida mudou completamente. Coincidência? Para Deus, não há coincidência. Adquiristes qualificação a partir da ordenação como Mestre da Ordem Católica de RAM, R de Rigor, A de Amor e M de Misericórdia, que nasceu há cerca de 500 anos. Ganhastes uma espada mágica, a que hoje se agrega uma outra, a clássica da Academia Brasileira de Letras. Se Machado de Assis foi O Bruxo, sois O Mago, como também podem ser todos os seres humanos.

Durante onze anos, estudastes alquimia, às voltas com os símbolos de dragões, leões, sóis e luas. Descobristes que, na complicada linguagem simbólica, havia na verdade uma forma de chegar ao coração. E então resolvestes, aos 38 anos de idade, depois de percorrer o estranho Caminho de Santiago, tornar-se escritor, vocação que afinal vos projetou no mundo literário internacional.

Sois uma pessoa que vive de sinais, que são mensagens cifradas, no alfabeto secreto do mundo. Eles têm sido preciosos, em vossa existência. Como ocorreu no episódio que envolveu a religiosa Nhá Chica de Baependi, Minas Gerais, que me foi relatado pelo amigo Silvestre Gorgulho. Em pleno período hippie, em 1978, convidado por vossa irmã Sônia Maria para batizar a sobrinha, fostes para a região que fica a trinta quilômetros de São Lourenço. Lá pudestes entender melhor quem foi a abençoada Nhá Chica, antes desconheci da. Durante trinta anos, a pérola escondida, como era conhecida, construiu com imenso sacrifício a igreja da cidade e colaborou no sustento dos pobres. Viveu de 1808 a 1885. Visitastes a pequena casa, onde, descrente de tudo, fizestes uma promessa: “Se conseguir ser escritor, oferecer-lhe-ei duas rosas vermelhas e uma branca, quando fizer 50 anos.”

Na volta, na estrada, aconteceu o terrível desastre. Vários mortos. Saístes ileso e, ao procurar algo no bolso, encontrastes o retrato de Francisca de Baependi, a Nhá Chica. Silencioso em sua mensagem de proteção. Em meio a tanta dor, entendestes o significado da palavra milagre: é aquilo que enche o nosso coração de paz. Foi o sinal para retornar aos sonhos, à busca espiritual, à Literatura. Cumpristes a promessa de retornar a Baependi em 1998. O processo de beatificação de Nhá Chica encontra-se, hoje, no Vaticano.

Acadêmico Paulo Coelho,

Sois, hoje, oficialmente, um dos nossos confrades. Fostes eleito, como é tradição, na Casa de Machado de Assis, pela unanimidade dos membros efetivos, simbolizada na tradicional queima de votos, após o pleito. As cinzas, no caldeirão aquecido, passaram a ser preciosas testemunhas do que afirmo, com a alegria de quem sente que a vossa colaboração aos projetos e sonhos da Academia Brasileira de Letras será intensa e dedicada.

A vossa responsabilidade é redobrada. Substituís, na Cadeira 21, um dos mitos intelectuais da República Brasileira. Roberto Campos, apesar da fugaz passagem pela ABL, deixou no país a marca da inteligência, da Cultura e do sucesso nos muitos e importantes cargos públicos que exerceu.

Cabe aqui uma pequena digressão. Há pouco tempo, com a minha mulher Ruth, visitei o santuário ecológico em que se transformou o Pantanal Mato-Grossense. Próximo a Poconé, naquela imensidão marcada por fluidos especialíssimos, passamos por uma cidadezinha, quase vilarejo, bem pobre, com a glória de ter sido o berço de Roberto Campos. Nascido em Nossa Senhora do Livramento, filho de pais humildes, o autor de A Lanterna na Popa dali saiu para o Seminário São José, no Rio de Janeiro, desenvolvendo, depois, uma carreira de fulgor inexcedível.

ÊNFASE NA ESPIRITUALIDADE

Sr. Paulo Coelho,

Sois um cidadão comum? Um especialista em magia? Ou simplesmente um escritor de sucesso?

Carioca de Botafogo, 55 anos, adolescência conturbada, um passado às vezes trágico, autor, no começo da carreira, de 65 belíssimas letras musicadas pelo parceiro Raul Seixas, sonhando com uma utópica Sociedade Alternativa, bem casado desde 1979 com a inspirada artista plástica Christina Oiticica, alcançastes a glória acadêmica com indiscutíveis méritos literários. Vossos livros são compreendidos e amados no mundo inteiro. Quereis dom maior?

Bem sei que vossos pais, Lígia (já falecida) e o engenheiro Pedro Queima Coelho da Souza, felizmente entre nós, estimavam para o filho uma profissão convencional, na área do Direito. Mas o destino reservava outro caminho e agora vos traz a esta Companhia, onde, segundo o pai, “conviverás daqui para a frente com gente de bem”.

A aceitação em outros países é a melhor prova de que sois consagrado autor, ao lado de John Grisham, um dos dois mais vendidos neste planeta sedento de cultura. Vossa obra traz-me à lembrança o louvor de Antônio Vieira a Luís de Souza, em 1767: “O estilo é claro com brevidade, discreto sem afetação, copioso sem redundância, e tão corrente, fácil e notável que, enriquecendo a memória e afeiçoando a vontade, não cansa o entendimento”.

É a simplicidade sem superficialidade, por isso fácil de ser traduzida em tantos países de culturas distintas.

Vender 41 milhões de livros (10 milhões só na França), ser traduzido para 56 línguas e editado em 150 países são fatos concretos de uma esplendorosa carreira, sobre a qual desejo avançar em considerações especiais.

Vossa obra, com forte ênfase na espiritualidade, rejeitando gurus, mestres e o fundamentalismo, busca exatamente resposta para essa angústia universal. Talvez aí resida o segredo do vosso êxito planetário, que recusa a expressão de literatura mercadológica. Sois a voz e o anseio de multidões à procura de uma perspectiva mais favorável, que se pode encontrar na leitura, valorizada pela certeza de que o livro jamais será superado pelo computador.

A criação literária tem os seus mistérios. Aceitar as suas diversidades é um exercício democrático. O que o mundo hoje nos pede é mais compreensão e não intransigência. Assim será possível aceitar a diferença. Se o público leitor vai ao encontro de determinada forma literária, a única atitude defensável é respeitar essa preferência, exercida livremente pelos leitores de países culturalmente distintos. E qual a razão do sucesso? Exatamente o fato de a obra do Acadêmico Paulo Coelho tocar em alguns dos nossos inquietos demônios.

Sois aficionado do mar, insondável em sua plenitude, de onde provém boa parte dos misteriosos sinais que balizam vossa vida. Caminhar descalço, na areia, é um dos vossos prazeres. As contemplações são diárias, do privilegiado posto de observação do apartamento de Copacabana. A água tem forte simbologia, por ser um dos elementos básicos da vida e da criação.

Homem de muitas faces e muitos oceanos desconhecidos, na permanente busca do conhecimento de vós mesmos, tendes uma rica bibliografia, a começar em 1974 com O Teatro na Educação, seguindo-se Os Arquivos do Inferno (1980), uma tentativa bem-sucedida de encarar vosso destino de escritor; depois O Diário de um Mago, em 1987, o primeiro de grande vendagem, é vosso encontro espiritual com a simplicidade na busca de Deus; a seguir, O Alquimista, em 1988, recordista de vendas, é o vosso percurso metafórico, a histórica peregrinação. Um livro arriscado, passando de um título anterior de não-ficção para um de ficção, sabendo-se que muitos escritores costumam acabar, literariamente, quando fazem essa mudança. Confessais que há muito de Jorge Luis Borges nessa obra, de intensa busca espiritual e conflitos existenciais. Longe da ideia de guru misterioso e enigmático, construístes uma pedra filosofal marcada pelo Brasil.

Brida é de 1990, um livro de nossos dias, grande reportagem de uma vida. É o romance mais longo, onde procurastes dar ideia da busca da mulher pelo conhecimento. Em As Valkírias, de 1992, abordastes o vosso casamento. Não era um livro sobre anjos, como muitos chegaram equivocadamente a crer. Seguiu-se, em 1994, o Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei, quando conseguistes realizar sonho antigo, qual seja, aceitar vosso lado feminino e utilizá-lo como forma de expressão. Vieram Maktub em 1994 (o que está escrito é sempre real) e O Monte Cinco, em 1996, um texto bíblico em que promovestes a incursão na vida de um homem obrigado a seguir o destino. Apresenta-se o tempo todo o equilíbrio entre o rigor e a compaixão. Em Verônika Decide Morrer (1998) lidais com a necessidade de aceitar as diferenças humanas, O Demônio e a Srta. Prym (2000) é um livro sem final maniqueísta; lançastes, em 2001, as Histórias para Avós, Pais e Netos, construído com as bem escritas crônicas que publicais semanalmente em O Globo e na Folha de S. Paulo.

Com recursos dos direitos autorais, criastes a Fundação que leva o vosso nome e que conta anualmente com expressivas doações. A finalidade? Ajudar crianças carentes das favelas do Rio e adultos desprotegidos, além de promover a tradução de livros brasileiros para outros idiomas. Uma bela iniciativa.

Como fizestes na música, sois capaz de sintetizar numa frase toda uma história vivida, com a convicção de que um guerreiro da luz nunca se perde na análise do passado, vive o presente. Como afirmava São Paulo, o guerreiro da luz ama combater sempre sem se deter na felicidade conquistada.

Em depoimento ao escritor e jornalista Juan Arias, no livro Confissões de um Peregrino, afirmastes que “para ser escritor é preciso um pouco de fantasia, de transgressão, de ruptura com os esquemas do saber convencional”. Dessa forma, o vosso estilo mistura rigor e compaixão, operando com a necessária sabedoria. Faz o homem com valores superar o medo pela dosagem adequada de coragem.

O AMOR PELO MISTÉRIO

Fostes aluno do Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, de formação religiosa. Assim, adquiristes a base para resistir aos momentos tempestuosos da crença em seitas e magia negra. Vossos livros despertam o amor pelo mistério e pelo espírito, portanto pela grandeza da alma. Por isso, sois membro da Igreja Católica e também um mago, como todos os que sabem ler a linguagem oculta das coisas em busca do destino pessoal. Com a convicção de que só a palavra salva o homem. Como sempre afirmou Carlos Castañeda, outra de vossas grandes admirações literárias.

A gruta de Nossa Senhora de Lourdes, na França, exerce sobre a vossa personalidade uma grande e decisiva força espiritual, o que justifica a habitual permanência na pequenina e inspiradora cidade de Tarbes, no aconchego do Hotel Henri IV, nos Pirineus franceses.

A cultura enciclopédica de Wilson Martins utiliza o conceito de família espiritual que torna possível reconhecer, em momentos históricos diversos, autores cujas afinidades eletivas supõem “parentesco” crítico. Assim, identificou as famílias espirituais: gramatical, humanística, histórica, sociológica, impressionista e estética. Tomo a liberdade de incluir-vos na família humanística – e assim terei dado ao vosso estilo uma classificação histórica, penetrando na essência da sua mensagem, na transparência das palavras, qualidade rara num escritor que objetiva, incansavelmente, transmitir ideias desconhecidas, não concebidas. É assim que atingistes a alma de incontáveis leitores, agraciados pelas luzes da esperança.

Como afirmais, a linguagem literária está mudando, e fostes influenciado por autores que procuravam um maior diálogo com o leitor. Correstes sempre o risco de ousar, de ir diretamente à essência do que mais vos interessa: o conflito humano.

Em vosso estilo de escritor, acreditais nas frases curtas, na síntese de ideias e poucas descrições, dando ao leitor o crédito da imaginação, da cumplicidade. Na busca desse estilo, resolvestes contemplar a Natureza e desenvolvestes uma forma de criação literária semelhante a ela: a aragem do campo, um processo de revolução interior, de renovação de valores; a semeadura, a criação que tem origem na vida, que semeia o campo fértil do inconsciente; a maturação, que brota do fundo da alma do escritor – uma espécie de interiorização da mensagem e, finalmente, a colheita, quando a criação torna-se manifesta. É assim que nasce o livro, marcando o vosso estilo diferenciado e personalíssimo.

A literatura mística, em linguagem acessível e direta, revela rituais milenares, exercícios de percepção, um encontro com alguns dos grandes mistérios do Universo. Em vossas narrativas, sempre de modo simples, para atingir todos os públicos, há uma proposta permanente do alargamento da visão de mundo, incluindo o visível e o invisível. Vossa literatura vai ao encontro de um forte anseio de busca espiritual, hoje presente praticamente no mundo inteiro, em que se registra a redução da taxa de racionalidade.

De forma velada, vossos livros provocam questionamentos interiores, de todas as latitudes, ao entrar em outra frequência. Recorro à milenar sabedoria chinesa para afirmar que em todos nós há um oráculo interno, pronto para nos fornecer informações necessárias e precisas a qualquer tempo. Fostes agraciado com o recebimento desses sinais, privilégio de poucos. Aflorou o mago, como se autodefine, identificado com as forças espirituais, livre das barreiras do tempo e do espaço. O misticismo é transmitido com verdadeiro encanto poético, para que se erga A Grande Obra, onde se identifica a missão divina. Os homens constroem a morada seguindo o caminho da luz. Assim, despojamo-nos do supérfluo, para viver com o essencial. São conceitos que vos fizeram aderir fortemente à cosmogonia indiana.

Na vossa consagração como escritor, a força das palavras ultrapassa os limites do texto. Isso pode ser bem compreendido nesse trecho do Pirke Avot (A Ética dos Pais), em que se revela a vivência hebraica de quase 6 mil anos:

Aquele cuja sabedoria excede as palavras, como vive? A árvore pode ter muitos galhos, mas poucas raízes. O vento quando chega pode acabar com ela. Mas quando as palavras são sólidas, mais fortes que o vento, as árvores de poucos galhos e muitas raízes sobrevivem.

Por isso, fostes homenageado com diversas e elevadas distinções internacionais, entre os quais o Prêmio Grinzane Cavour, da Itália; os títulos de Cavaleiro de Letras e Artes e Cavaleiro da Legião de Honra da França e o Crystal Award, concedido pelo Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

EM BUSCA DA ALMA DO MUNDO

Milhões de leitores, no mundo inteiro, entre os quais figuras notáveis, como o Presidente francês Jacques Chirac, Bill Clinton e o Chanceler israelense Shimon Peres, demonstram vossa qualidade de narrador, sempre em busca de alguma coisa: o Caminho, a Pirâmide, o Alquimista, a Linguagem Universal, a Alma do Mundo.

O Acadêmico e Crítico Literário Antonio Olinto, ao analisar cuidadosamente a vossa obra, elogiou o perfeito sentido do ambiente nos romances. Segundo Olinto, “um feito literário, que é um dos motivos do seu êxito”. Os passos de Santiago estão gravados para sempre na Alma do Mundo, termo corrente na alquimia, que estima para este século uma forte característica mística e espiritualista.

Não poderá estar aí, na capacidade de antevisão do escritor Paulo Coelho, uma das melhores explicações para o êxito indiscutível? Vossa eleição para a Academia Brasileira de Letras apenas reafirma as qualidades literárias muito próprias com que sois distinguido em todas as partes. Não existirá melhor embaixador cultural, no mundo agitado por guerras e incompreensões, mas que saberá apreciar um verdadeiro guerreiro da paz.

Apaixonado por borboletas, sem explicação para o sucesso (é mistério), revoltado com a bestialidade nazista e a degradação humana vistas nos campos de concentração de Dachau e de Auschwitz, Conselheiro Especial da UNESCO para diálogos interculturais e convergências espirituais, adotais um estilo que ultrapassa as próprias palavras dos livros, por isso excelente matéria de reflexão.

Quanto ao mistério, só Deus poderia dar uma resposta. Ele é a fonte da sabedoria. E sábio é o que fala as coisas mais importantes de forma extremamente simples.

Em Jerusalém, já próximo ao Muro das Lamentações, em 1990, tivestes vontade de rezar. Mas como? Lembrastes, então, de um conto hassídico: na sinagoga, um menino dizia bem alto o nome das letras do alfabeto hebraico: alef beit, guimel... Perguntado por que fazia isso, esclareceu: “Não sei ler. Espero que, jogando as letras para o alto, Deus as recolha e complete as frases que revelem a minha espiritualidade.”

O peregrino Paulo Coelho, sem saber hebraico, pegou um livro de rezas de capa preta, abriu sem se preocupar com o conteúdo e começou a dizer uma série de letras, esperando igualmente que Deus as recolhesse para compor frases de paz e concórdia. Nada de muralhas. Elas impedem o crescimento.

“Dai-me, Senhor, um coração que escute.” Foi esse o pedido do rei Salomão, quando Deus surgiu em seus sonhos. Para o nosso novo acadêmico, o mais novo em idade de todos nós, é disso que se nutre a espiritualidade. O Universo vai continuar, os homens terão os mesmos medos, as mesmas esperanças e a mesma vontade de continuar buscando algo que aplaque a sede de infinito, que os impulsiona a buscar o desconhecido.

Ao entrar na Casa de Machado de Assis, podeis recordar o grande poeta Goethe: “Tenho a certeza de que já estive aqui, como estou agora, mil vezes antes. E quero voltar mais mil vezes.”

Assim será – e muito mais –, pois, se tivestes o privilégio de nascer há 10 mil anos, como repete a letra da música inspirada, o nosso desejo sincero é de que o futuro vos reserve, no mínimo, outros tantos anos de sucesso, sempre na companhia de vossos imortais confrades.

Acadêmico Paulo Coelho,

Sede bem-vindo à Academia Brasileira de Letras, que vos acolhe de braços abertos.

 

28 de outubro de 2002